sábado, 31 de janeiro de 2009

Fotografia é história

Manoelzão, veredas e sertões
Foto 
Depois que publicou “Sagarana”, João Guimarães Rosa foi vistar um primo que tinha terras perto do Rio São Francisco. Foi nessa viagem, em 1952, que o escritor conheceu o vaqueiro Manoel Nardy, capataz e cozinheiro das tropas de boiadeiros. Rosa percorria o interior de Minas Gerais para colher histórias e referências para livros futuros. Não abriu mão da companhia daquele magrelinho astuto que trabalhava na fazenda do primo. Ao longo das jornadas a cavalo, o franzino Manoel revelou-se mais que um guia de caravanas. Transformou no sábio personagem Manoelzão de “Grande Sertão, Veredas” e “Corpo de Baile”. 
Como foi – 1991. Manoelzão morava em Andrequicé, a 200 quilômetros de Belo Horizonte. Fui até fotografá-lo, pouco antes de sua morte, aos 93 anos. Por ter a fama de ser inspirador e personagem literário dos mais importantes livros de Guimarães Rosa, esperava encontrar um sujeito empafioso e cheio de soberba. Que nada! Examente o contrário. Poucas vezes vi exemplo de singeleza e simplidade. Típico mineiro. Retraido, fala mansa e sobretudo comedido. Lembrança afiada e perdidamente apaixonado pelo sertão, tinha a capacidade de descrever com palavras um episódio de tal forma que dava-me a impressão de estar presenciando a situação sobre a qual discorria. Franzino, botinas de couro cru, chapéu de palha, caminhava com o auxílio de um cajado de madeira. As longas barbas brancas e o temperamento sereno, faziam lembrar a figura de um eremita. Quando perguntei-lhe sobre estar chegando aos 90, ele repondeu-me com a sabedoria que adquiriu ao longo de sua vida de caminhadas pelo interior: - Gente nova tem força. Gente velha tem jeito. Orlando Brito.
 
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