segunda-feira, 6 de abril de 2009

CARTAS DE ESTOCOLMO

Vida urbana e vida selvagem

Você já viu um carcaju? E um texugo?

Junto com os ursos e os lobos, os carcajus, os linces e os texugos deram para aparecer na região de Estocolmo, nos últimos tempos. Um sinal claro de que a primavera chegou, mas também um sinal de que as medidas de proteção aos animais e os limites à caça estão surtindo efeito.

O fato é que, no fim de semana passado, um carcaju foi visto passeando perto de Norrtälje, uma cidade bem próxima, ao norte da capital sueca. Foi a primeira vez que esse animal apareceu por estas latitudes. E no meio desta semana, um texugo foi visto pelas ruas de Solna, no subúrbio de Estocolmo.

Já contei, aqui, algumas histórias de animais selvagens passeando pela cidade. Lobos aparecem esporadicamente, visitando jardins, assustando moradores e encantando também, é claro. Exercem um fascínio insuperável! Pelo menos para mim, que tive a sorte de crescer com histórias de Chapeuzinho Vermelho, Chapeuzinho Azul e Chapeuzinho de Todas as Cores, quando eu insistia em mais uma...

Dos veadinhos eu nem falo. Eles são visitantes contumazes, comendo flores e frutas dos pomares das casas. Tenho uma amiga que mora em Lidingö, uma das ilhas de Estocolmo. Outro dia fui visitá-la e, ao abrir o portão, surpreendi um desses Bambi fazendo a festa com as maçãs caídas ao solo. Ele fugiu assustado, é claro. Minha amiga só reclama porque eles comem as flores.

Há um já famoso urso solitário que frequenta o lago de Vällen, na divisa entre o condado de Estocolmo e o de Uppsala, a menos de uma hora de viagem daqui.

Mas são só os linces que parecem ter-se estabelecido de vez pelos arredores de Estocolmo. Segundo os entendidos, já são cerca de seis famílias, num total de mais de 30 animais rondando pelos bosques da capital.

Segundo reportagem do Dagens Nyheter, os ursos marrons foram quase extintos no século passado. Hoje em dia, estima-se que sejam cerca de 2500 animais no país, número muito acima do limite mínimo de 1000 exemplares estabelecido pelo Parlamento.

Os carcajus começaram a ser protegidos no final da década de 60 e, hoje em dia, a população também supera o mínimo estabelecido. O mesmo acontece com os linces.

A presença de animais selvagens nos arredores da cidade grande é, sem dúvida, um sinal do sucesso da política ambiental e de proteção da biodiversidade sueca.

Quando eu era criança, a gente aprendia na escola a distinguir entre uma cobra venenosa e uma não venenosa. Lembro-me que estudávamos detalhes, como o formato da cabeça e algumas outras características, que ajudavam a diferenciar uma jararaca de uma cascavel e coisas assim.

É um sinal dos tempos, mas acho uma pena que os jovens de hoje já não precisem saber essas coisas.

Na reportagem do jornal, foram publicadas as marcas das patas dos quatro diferentes animais selvagens – lobo, urso, carcaju e lince - que têm sido vistos na região de Estocolmo. Será que eles pensam que a gente vai aprender a distinguí-las, para o caso de encontrar uma pegada?

Eu trabalho com meio ambiente e acho maravilhoso poder contar tudo isso. Adoro um passeio pela floresta. Mas sou medrosa. Pode ter certeza: encontrando uma marca dessas no terreno, antes de começar a analisar de quem será, eu já saí correndo!

E espero que os bichos tenham mais medo de mim do que eu deles!

Leitora do blog, Sandra Paulsen, casada, mãe de dois filhos, é baiana de Itabuna. Fez mestrado em Economia na UnB. Morou em Santiago do Chile nos anos 90. Vive há quase uma década em Estocolmo, onde concluiu doutorado em Economia Ambiental. Escreve no Blog sempre às segundas e sextas.

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