segunda-feira, 29 de março de 2010

Fórum Internacional de Sustentabilidade aponta consumidor mais seletivo

Cenário exige postura consciente para garantir lugar no mundo dos negócios, inclusive das agências

Maior bacia hidrográfica do planeta, equivalente a 12% do volume de água potável, maior floresta, peixes que potencializam a vitamina C, cobras peçonhentas, cujo veneno ameniza a pressão arterial, fragrâncias, chás, frutas, castanhas, biodiversidade etc. A região amazônica, que ocupa 60% do território nacional, mas tem apenas 25 milhões dos quase 200 milhões de habitantes do País, é moeda de troca fácil em um cenário no qual a palavra sustentabilidade tem efeito chave no universo do consumo e dos negócios.

Foi esse o tom do Primeiro Fórum Internacional de Sustentabilidade realizado na semana passada em Manaus, sob o guarda-chuva “A importância da Amazônia no contexto das mudanças climáticas globais”. Entre as atrações do evento organizado pela Seminars, resultado da joint venture entre Grupo ABC e Lide (Grupo de Líderes Empresariais), o ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore, e também Prêmio Nobel da Paz, do cineasta James Cameron, de “Avatar”, do cientista Thomas Lovejoy, uma das principais autoridades globais sobre o bioma amazônico, e do professor e escritor americano Jack London.

Estrela do BRIC, sigla que identifica Brasil, Rússia, Índia e China, o País ainda não sabe usar a região. “Antigamente era o petróleo. Agora, a questão decisiva é a água. O Brasil tem, a Amazônia tem. Com sustentabilidade, em todas as suas conexões possíveis, vai garantir uma posição diferenciada no cenário internacional”, frisou Jack London, um dos criadores do Projeto Juma, de inclusão e ações de sustenbilidade. London foi aplaudido por defender a soberania do Brasil sobre a Amazônia.

Consciência

“Ciência, inovação e tecnologia são os principais pilares da busca pela sustentabilidade”, destacou Adalberto Luis Val, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia.

Com cerca de 500 participantes, o Fórum não quis pautar consciência ecológica. Para Nizan Guanaes, sócio do ABC e entusiasta do debate sobre sustentabilidade, a diferença é clara. “A consciência ecológica deve ser latente e a sustentabilidade é fruto de uma postura que envolve todos os níveis hierárquicos de uma empresa. É procedimento consequente para o dia de amanhã. Se nós ficarmos brincando de marketing verde, vamos criar enormes problemas para os anunciantes, porque eles serão cobrados na mesma proporção pelos consumidores. Hoje, o consumidor tem faro apurado para identificar o que é fake. É a era da transparência. E mais: vamos perder uma imensa oportunidade de gerar valor para nossa cadeia de stakeholders.

As empresas que abraçaram a postura da sustentabilidade no seu business, de forma verdadeira e honesta, têm dianteira significativa junto ao consumidor. Não há outra saída: sustentabilidade não é uma opção, é uma obrigatoriedade. Hoje não se admite mais nenhuma atividade que não seja sustentável na relação com acionistas, colaboradores, fornecedores”, argumentou o acionista do ABC.

Na avaliação de Guanaes, as agências de publicidade devem extrapolar a produção de anúncios, filmes e spots. Precisam adotar a sustentabilidade em tudo, dos mecanismos carbon free ao voluntariado, mas passando por salários, políticas de recursos humanos e conhecimento para orientar clientes em rumos e decisões. “O papel da agência é não usar o discursinho verde que está por aí. Esse evento acontece em um momento certo porque Amazônia não é o pulmão verde, mas o cérebro verde do mundo”, disse Guanaes, elogiando pesquisa do Pólo Industrial de Manaus sobre o impacto da publicidade na conscientização popular. “As pessoas reconhecem que a comunicação tem papel social”, acrescentou.

Radical

Se não houver mudança radical no comportamento, os consumidores vão demonstrar sua insatisfação boicotando produtos e serviços. “Acabou a era casa de ferreiro espeto de pau. Não adianta ter crescimento econômico sem comprometimento com a sustentabilidade”, observou Eduardo Braga, governador do Amazonas. João Dória Jr. vai mais longe: “Se a comunidade empresarial não tiver esse compromisso, ela não vai ter o que administrar.Não haverá consumidores e prosperidade econômica.

Felizmente, os empresários brasileiros vêm evoluindo rapidamente na adoção de medidas sustentáveis, recicláveis, programas ambientais e discussões sobre ecologia, só para citar algumas iniciativas. O Fórum, que tem 14 patrocinadores, dez apoiadores e parceiros, é uma demonstração do engajamento”, justificou Dória Jr.

Para Alexandre Raposo, presidente da Rede Record de Televisão, o papel da comunicação é vital no discurso da sustentabilidade. A grade de programação da emissora abre espaço para veiculação de campanhas e adota na administração interna medidas seletivas relacionadas à sustentabilidade. “Massificar essa idéia é um dever nosso. Esse tema vai mudar nosso comportamento”, disse o executivo.

No caso da Tetra Pak, o presidente da empresa, Paulo Nigro, sustenta que a marca das embalagens longa vida tem políticas de sustentabilidade, “exatamente para não subtrair clientes e imagem. Fazemos assim porque achamos que o certo prevalece. Se um cliente nosso não tiver uma postura exemplar, buscamos outro”, ponderou Nigro.

Al Gore, que falou na última sexta-feira (26) para um salão lotado do Hotel Tropical, mostrou que os efeitos da sua pregação de duas décadas estão ganhando corpo e, sobretudo, respeitabilidade. “O mundo clama, mas há essa verdade inconveniente que nos assusta e também nos move”.

por Paulo Macedo, de Manaus

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