quarta-feira, 28 de abril de 2010

Temperamentos e biografias





(Afonso Dantas)

Encontrei o então Governador Ciro Gomes no camarote do carnaval de Salvador, na época em que Lídice era prefeita daquela capital. Ambos eram do mesmo partido, o PSDB, se não me engano. Cumprimentei-o como Presidente, pois sabia de seus sonhos e pretensões, além de sua popularidade na época e seu entrosamento – também na época – com a cúpula tucana, e eu me identificava com sua juventude, com sua vontade e garra de lutar por um País melhor. Eu achava que estava diante de um estadista de futuro. Poderia votar nele.
De repente, o caldo entornou – ou no meio do caminho tinha uma pedra (ou uma língua) – e deu no que deu, ou ainda – pois românticos existem em todo o lugar, até na política e podem acreditar em sonhos – ainda dará...
Nós assistimos a uma carreira que tinha tudo para dar certo, mas que foi literalmente engolida pela boca, ou melhor, engolida pelo temperamento e pelas palavras de Ciro, que demonstrou não ter a “frieza” necessária para governar o País. Ofendeu as mulheres, partiu para um bate-boca com um eleitor ao vivo, em pleno rádio e, mais recentemente, “queimou” todas suas pontes em São Paulo e as muitas pretensões políticas ao “atirar para todos os lados”. Conseguiu uma façanha. Desagradou ao governo e à oposição ao mesmo tempo. O seu futuro político, parece, ficará restrito aos que o toleram por afinidade de temperamento – poucos – ou ao seu estado natal, o belo e majestoso Ceará.
Dilma, que de temperamento não perde nada para Ciro, vem “se controlando” para amenizar esse seu lado “Dr. Jekyll – Mr. Hyde”, ou explicando, esse comportamento “O médico e o monstro” que ela tem. Na frente de todo mundo, com uma super assessoria por trás, trata todo mundo bem, é uma lady, uma pessoa afável, uma “mãezona” do PAC, como Lula deseja, ou seja, é o médico, o Dr. Jekyll. Mas, basta uma contrariedade, uma contestação, que o seu lado Mr. Hyde, ou “o monstro”, aparece, aflora em toda sua intolerância e arrogância. Quem estava no evento do GASENE, lembra do “esporro” que ela deu na organização por causa de sua água que não chegava, e acabou “sobrando” pro pobre garçom, que arfante, fez uma rapidíssima corrida de 50 metros para entregar o precioso e desejado líquido à exigente ainda Ministra da Casa Civil.
Mas temperamento parece ser apenas um dos problemas da pré-candidata. Por ser “fabricada” por Lula, que ignorou figuras históricas do PT, e a lançou à sua sucessão, para que sua liderança se mantivesse, pela dependência de Dilma da força - e dos votos – que o presidente tem, foram “fabricar” também a sua biografia.
Além de negar seu passado terrorista, surgiu um Doutorado que não existiu, uma série de fotos de eventos dos quais nunca participou, além da forçada comparação à Norma Bengel, demonstrando que a busca por um passado, por uma história é essencial, mas ao constatar que a biografia de Dilma é pobre, sem brilho, e numa comparação com os outros candidatos fica muito atrás, lança-se o artifício de fabricar-lhe uma. Ao gosto do freguês. Do jeito que vai, não demorará e aparecerão fotos de Dilma derrubando o muro de Berlim, lutando ao lado de Nelson Mandela contra o Apartheid ou a bordo de algum navio do Greenpeace defendendo as baleias...
A falta de biografia de Dilma não é um pecado. O temperamento de Ciro, pode até ser um pecado, mas quem tem sido prejudicado por ele é o próprio Ciro. O maior pecado, talvez, seja a base aliada ignorar um candidato mais preparado e com experiência que seria o Ciro Gomes, pelo simples medo de contestar o Lula. Mas o tratamento de desprezo recebido por Ciro, após este até mudar – a pedidos - o domicílio eleitoral para São Paulo - demonstra a real intenção do atual governante que não quer sair realmente do poder. Quer controlá-lo. E para isso quer eleger um poste. Um poste que dá muitos choques, por sinal.


Afonso Dantas é Administrador de Empresas com Especialização em Marketing e Sócio e Diretor de criação da Camará Comunicação Total. Blog: WWW.afonsodantas.blogspot.com e-mail: ahdantas@uol.com.br

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