segunda-feira, 18 de abril de 2011

Reinações de Narizinho – 80 anos!


Reinações de Narizinho – 80 anos!














James Martins

Os muito ranzinzas que me perdoem, mas este 2011 é um ano cheio de motivos de festa. Senão vejamos: o poeta Augusto de Campos fez 80 em fevereiro; Roberto Carlos completa 70 no dia do índio, 19 abril, confirmando que ele, o rei, é mesmo a cara (pintada?) do Brasil; João Gilberto também faz 80 em junho. E, embora Augusto não seja reconhecido como deve, Roberto dê sinais de senilidade há algum tempo e João esteja para ser despejado, eu repito: os muito chatos que me perdoem, mas comemorá-los é fundamental. Outro evento brasileiro de enorme importância que completa data redonda em 2011 é o livro Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato, fundação do Brasil para as crianças. Este livro representa para a literatura infantil o que Os Sertões e Casa Grande & Senzala para a adulta. Finalmente o mundo encantado dos quintais locais, com suas frutas, seus bichos, seus cheiros, seu jeito... chegava à literatura onde antes só se lia sobre bosques, esquilos, amoras e outras coisas aqui inexistentes. Só este fato joga sete palmos de terra sobre o tão propalado ‘anti-modernismo’ lobatiano. Silenciosamente, como ficam as crianças quando estão aprontando as suas, Monteiro Lobato fez revolução. Taqui o Oswald de Andrade que não me deixa mentir: “Você foi o Gandhi do modernismo brasileiro, jejuou e produziu, quem sabe, nesse e noutros setores, a mais eficaz resistência passiva de que se pode orgulhar uma vocação patriótica. No entanto, martirizaram você por falta de patriotismo”. E por falta de modernidade. Ora, vão lamber sabão!



Sabe Shrek? Lembra como os personagens de outros contos como Chapeuzinho Vermelho, Pinóchio, Cinderela, etc. aparecem e interagem em ‘TãoTãoDistante’ de uma maneira que acrescenta muita graça ao filme? Pois é, Monteiro Lobato inventou esse lance em 1931, quando saiu Reinações de Narizinho. No sítio de Dona Benta aparecem Peter Pan, Aladim, Branca de Neve e muitos outros personagens do Mundo das Maravilhas para tramarem com a boneca de pano, o sabugo de milho, os boizinhos de xuxu, o burro falante, o rinoceronte que fugiu de um circo no Rio de Janeiro, os meninos, as senhoras, os jecas, etc. Se o Brasil já fosse um país, aquilo que, segundo o autor, “se faz com homens e livros”, teríamos uma Disneylândia do Pica Pau Amarelo em Taubaté. Se fossemos como Lobato, os fast food tipo Mc Donald’s venderiam também mingau, pamonha, bolo de carimã, marmelada de banana, bananada de goiaba, goiabada de marmelo, etc. Eis o que eu quero dizer: O Sítio do Pica Pau Amarelo é, como a bossa nova, um Brasil que o Brasil ainda não construiu. Mas que também não existiria sem o Brasil, este mesmo.


E pensar que tudo saiu de um nariz arrebitado, segundo o próprio Lobato em entrevista. Reinações de Narizinho é o livro espoleta, estopim da invenção, onde surgem, de um rojão só, todas as famosas personagens: Emília, Visconde, Pedrinho, Narizinho, Dona Benta, Tia Nastácia, Tio Barnabé, Rabicó, Quindim, etc. Para celebrar o magnífico livro algumas (poucas) homenagens estão sendo feitas. O Google colocou a boneca e o sabugo na sua página. A Folha fez um ensaio fotográfico. E, por enquanto, não sei de nada mais vultoso. Mas lembro, sempre lembro, daquela declaração do cartunista Ziraldo. Disse ele que, diante de tantos concursos, rankings e listas literárias, nunca se fez um sobre a melhor personagem criada no Brasil para não ter-se que admitir que esta mora em um livro infantil: Emília, segundo ele. O apresentador Marcelo Tas é outro fascinado pela boneca falante: “Sem dúvida, a boneca Emília é minha personagem favorita. Ela tem um humor nonsense, muitas vezes cruel, sem perder a ingenuidade de uma boneca de criança. É um achado incrível do autor, um brinquedo que fala, coisa que o pessoal da Pixar com a série Toy Story foi descobrir muito tempo depois com grande maestria”, disse. Eu não saberia destacar as minhas preferências no Pica Pau. Mas um fato inegável é a força que seus livros ainda têm. Não à toa são capazes de gerar polêmicas ainda hoje, além de encanto eterno. Viva Reinações de Narizinho!

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