segunda-feira, 25 de julho de 2011

"O velho, o menino, o burro e o mercado"

"O velho, o menino, o burro e o mercado"

Diz um certo conto de La Fontaine, que você já deve ter escutado, que um velho e um menino seguiam por uma estradinha montados num burro. Até que, no caminho, alguém falou:

- Que crueldade! Assim, eles matam o burro!

O velho, assustado com os comentários, pediu para o menino descer. Até que outras pessoas comentaram:

- Que velho maldoso. Deixar o pobre menino a pé!

O velho mais uma vez se impressionou com os comentários e desceu do burro. E colocou o menino para montar. E novamente comentaram:

- Que menino desalmado. Cheio de energia montado no burro, enquanto o coitado do velho caminha.?? Até que os dois resolveram carregar o burro nas costas. E mais uma vez ouviram risadas pelo caminho. E um comentário:

- Mas olha só, como são burros.

Infelizmente, o mercado publicitário funciona muito parecido com este conto. Não é uma metáfora simplória, é constatação. O cara é bom em filme? Ah, mas ele não manja nada de web. Ele é bom em web? Putz, ele não saca nada de mídia tradicional. Mas ele é bom em títulos, diria um defensor. E um passante na beira da estrada diria que ele nunca fez uma ação sequer. Ele está pensando em integrated, agora. Tá, mas piorou muito nos roteiros. Ele é bom em spots. Ah, vá! Quem liga para spots? Ele é premiado? É, mas só em prêmios nacionais. Ele ganhou Cannes? Ganhou, mas não tem nada do dia a dia. Ele resolve o dia a dia bem pra caramba. Resolve, mas não ganha nada em premiação internacional. Ele é bom em releases. Bem, aí não tem perdão mesmo.

Para piorar, existem os comentários anônimos que me enchem de vergonha. Agora mesmo, deve ter um aí embaixo dizendo: que bosta de texto. Mas penso no Chico Buarque comentando sobre os anônimos e rindo. E vejo que ele está certo.

Moral da história? Trabalhe dignamente, meu caro. Cumprimente os colegas quando você achar que o trabalho é bom de verdade e não por network. Na beira da estrada, não falta gente falando. Escute menos e faça o seu. Acredite: no mercado, é melhor ser velho, menino e até mesmo burro.


André Kassu

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