sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Lá vai o poeta

(Afonso Dantas)

Reza a lenda que um poeta – não me recordo se foi Vinícius de Moraes ou o bardo Juca chaves (quem quiser que consulte o Google para descobrir) – ao se hospedar em um hotel, escreveu ao lado da profissão: Poeta. E o hoteleiro ao ler aquilo, exigiu pagamento adiantado...
Se isso foi verdade, eu não sei, mas assim é tratado o poeta, quase sempre visto com desconfiança ou até com um misto de pena e simpatia, daquela dedicada aos loucos e palhaços, pois poesia sempre foi considerada uma arte dos lunáticos.
A oportunidade e ousadia de viver a poesia é que deve ser o grande segredo, pois conheço muitos “poetas” - juízes, médicos, advogados, empresários – que se dizem poetas, mas que se refugiam desse chamado “amor à Lua”, em seu dia-a-dia massacrante e tedioso e quando se encontram com um poeta que realmente parece “viver a poesia”, ficam maravilhados e ao mesmo tempo, temerosos, pois sentem vergonha e medo de seu comportamento, ou no fundo, uma grande inveja desse modo de vida livre, mas nada ortodoxo.
Comecei em propaganda, vendo diretores de arte e redatores saindo com suas pranchetas e cadernos debaixo do braço para criar as grandes campanhas publicitárias que venderiam os produtos e serviços da agência onde eu estagiava. E, na volta, bronzeados de Sol e destilando aromas nada naturais em horário de expediente, mostravam belas e eficazes campanhas perante o espantado olhar do atendimento a beira de um ataque de nervos e o meu olhar de pura admiração e, assumo, um pouco de inveja.
Hoje a estrutura é bem diferente, os prazos são mais curtos e dificilmente alguém da criação se desconecta da equipe de planejamento. Ou seja, ficou um pouco mais sem graça. A poesia parece que escapou por alguma janela.
Vi e vejo muitos poetas, que vivem a poesia na sua melhor expressão, livres e entregues à vida sem pudores e sem medo, como os poetas grapiunas Ramon Vane e José Delmo, que sorvem as experiências, traduzindo-as de forma muito especial e marcante. (agora recomendo o Google para conhecê-los)
Firmino Rocha, poeta considerado louco ao perambular ébrio pelas ruas de Itabuna, Bahia, na madrugada, tem seu poema “Deram um fuzil ao menino” gravado em bronze no prédio da ONU, em Nova York, embora em vida, sempre era apontado com pena e desdém: “- lá vai o poeta!”
Pois lá vai o poeta e lá vem a vida, atropelando esse comportamento mágico e precioso, que deve ser compreendido e protegido, para que a vida não fique sem graça, afinal “O poeta é a pimenta do Planeta. Malagueta!”




Afonso Dantas é meio poeta, publicitário, sócio e diretor de criação da Camará Comunicação Total e o principal, é pai de Maria.
Twitter: @Afonso_Dantas e-mail: afonso.dantas@camaracomunicacao.com.br

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