segunda-feira, 21 de maio de 2012

Coluna A Tarde: A colonização do PSDB baiano

Samuel Celestino O PSDB é um partido charmoso, como charmoso é o seu símbolo, o tucano. É uma legenda que abriga a aristocracia política paulista, onde comanda o governo Estado. Quase feudo. Aqui na Bahia, o PSDB é uma agremiação nanica, que se movimenta sob orientação paulista e não por seus integrantes regionais. Não cresce nem conseguirá fazê-lo até entender que, para ter votos baianos, o partido terá que funcionar também no Estado e não ficar dependente dos interesses paulistas, aos quais serve. Aqui, o PSDB apenas faz de conta e procurar zelar pelo charme que vem da paulicéia, que não é desvairada em política, pelo contrário. Sabe controlar e até tratar como colonizados os diretórios regionais nordestinos, especialmente nestas bandas. Se para SP o símbolo é o vistoso, multicolorido e tropicalíssimo tucano, para a Bahia o símbolo da legenda deveria ser o velho pau de arara. Que desembarca em São Paulo para servi-lo politicamente da forma e modo como for mandado. Nesse aspecto não é “pau de arara”, mas a velha forma de nomear aqueles que recebem ordem: pau mandado. Foi lá, pelas bandas dos velhos bandeirantes quatrocentões, que o DEM arriou suas malas para fazer um trato de rolo com os votos tucanos baianos, na medida em que a Bahia é o último reduto e esperança do herdeiro do PFL, que foi herdeiro do PDS, que foi herdeiro da bisavó Arena dos generais da ditadura. Eles vão negar aos pés da santa cruz. Mas não colará. A verdade é que, de cima para baixo, rifaram a sucessão municipal baiana ao sufocar, num chega para lá, o sonho de Antônio Imbassahy voltar a ser prefeito. Imbassahy se contorceu nas dores da traição. Não é assim, ressalve-se, que entende o PSDB. Para o partido, o que vale não é a prefeitura daqui, mas a prefeitura paulistana ser comandada por José Serra. Afinal, é uma prefeitura gorda que esnoba por ser o segundo orçamento do País.Terceiro, se contar o poder federal. Foi acordo sanfranciscano, na base do “toma lá-dá cá.” O negocio foi feito desse modo: Serra e o PSDB de lá se acertaram como senador José Agripino, presidente do DEM nacional, ou lá quem o representou. O acerto de Serra: vocês, do DEM nacional, me apóiam aqui, em SP numa aliança em que usarei o horário de vocês no rádio e na televisão e, em contrapartida, o PSDB não lançará candidato à prefeitura de Salvador, passando a apoiar o candidato do DEM, ACM Neto. Fechado? Fechado. Tudo normal, porque política é mesmo uma arte de negociar que o eleitor pouco sabe. Tudo certo, então. Acontece, porém, que o tucanato daqui, melhor, o “pau de arara” baiano tinha em Antônio Imbassahy um pré-candidato forte. Foi decapitado na última sexta feira. Até o final do processo de negociação o ex-prefeito e deputado federal insistiu em não acreditar, embora soubesse de tudo o que acontecia no breu das tocas paulistanas. Interessante é que, durante todo esse processo em que ele era julgado incompetente para concorrer à prefeitura de Salvador e caminhava para ser guilhotinado, sempre defendeu o deputado federal Jutahy Magalhães Jr., que comanda a regional do PSDB baiano. Por que isso? Porque enquanto Jutahy enxerga o projeto nacional dos tucanos de lá, Imbassahy via (e não estava errado) a possibilidade de ganhar em Salvador onde as pesquisas internas o colocam em segundo lugar na preferência do eleitorado soteropolitano. Mais ainda: considera, também, que se o PSDB não participar de eleições com candidatos próprios,a tendência (e está certíssimo) é a legenda na Bahia minguar, minguar e se desidratar definitivamente. O partido já é nanico e não empolga. Se não disputa, adeus viola. Já ACM Neto, que será o beneficiado com o acordo PSDB-DEM, também está certo. Ele e o seu presidente, senador José Agripino, estão com a visão exclusivamente voltada para seus interesses partidários. A eleição de Salvador pode ser a tábua de salvação da legenda, que chegou ao ponto de diminuir de tal maneira que pode sumir do mapa. Agripino disse isso aqui, na festa de lançamento de Neto. Para ele, o deputado e candidato a prefeito é a principal e última jóia da qual o DEM dispõe. Se o partido renascer, isso acontecerá a partir da Bahia, a partir de Salvador. Se Neto perder, o antigo Titanic, que surgiu na era dos generais, vai a pique, deixando apenas no rastro da sua popa uma história presente nos últimos 45 anos da política tupiniquim. Que pode ser contada assim, assim. Nem boa, nem ruim. As duas coisas ao mesmo tempo. De resto, o DEM ficou bem com o acordo que maltratou Imbassahy, mas o PSDB vai pagar o preço, a prenda, lá o que seja. Se Neto porventura ganhar a Prefeitura, dará lugar aos paus de arara na administração municipal. E daí? De mais a mais, Imbassahy acatou a decisão do PSDB em silêncio, com um cavalheiro. Fica sabendo porém e desde já que ele é bom para ser deputado. Nada mais, como na roleta do jogo, onde o crupier dá as cartas e recolhe o botim dos perdedores. *Coluna de Samuel Celestino publicada no jornal A Tarde deste domingo (20).

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